28.11.08

18:45

Fiquei olhando para a grande imensidão de chão cinza que me rodeava e me fazia como que ilha. Mas ilha de quê? Um grande pedaço de carne humana cercado de chão por todos os lados, até por baixo, que era o chão mesmo cinza que me segurava, e então eu já não era mais ilha, e nem me afogava. A entrada para o cinema formava um cubo megalomaníaco, teto, chão, teto, parede, uma dessas grandes bolsas de concreto da capital federal, a vidraça, o letreiro, o azulejo solto, o pequeno buraco no chão de nome Latour, o segundo era o Vilar, não sei por que, mas eram milimétricos e eu só os via por estarem a alguns centímetros da ponta do meu pé e eu sentado a tempo suficiente para conceder-lhes uma ontologia, cosmogonias e pequenos monólogos, e tudo isso parecia ser parte da megalomania do cubo, um grande plano, era tudo parte do grande plano, o meio-fio, o fusca em fila dupla, eu, Vilar e Latour, até a multidão que não comparecia e o grande vazio cotidiano que se instalava e que fazia notar-se o próprio cubo, todos sempre programados para preencherem nossos respectivos espaços dentro do grande plano do cubo megalomaníaco.

— São seis e quarenta e cinco. Aliás, quarenta e três.

Tyu chegaria em quantos minutos? Vilar discorria agora sobre o olfato, o menosprezo do sentido olfativo pelo mundo ocidental, essa coisa onde se pode viver muito bem sem que se cheirem flores, mofos, manteigas, o ralo, mas que

— ora, culturas inteiras se formam por aí baseadas sobre o sentido do olfato. Me parece necessário que estejamos perdendo pelo menos alguma coisa aí.

O Vilar seria capaz de grandes conversas com Tyu, disse isso a ele, Tyu se impressiona facilmente com essas histórias, odores, filosofias dos sentidos, aquilo que tocamos, que nos toca, essa coisa impressionista que não se explica. Tyu era bastante impressionista, não no sentido que se dá a uma pintura impressionista, um poema, ou uma etnografia que deixasse de lado a população guarani para discorrer sobre o próprio etnógrafo, achismos acadêmicos ou algo do gênero. Tyu era impressionista no sentido mais egóico da coisa, de que explicava pela sensação e que portanto não podia explicar,

— são seis e quarenta e cinco. Aliás, quarenta e quatro.

era composta por um grande amontoado de idéias vagas e abstratas, pôsteres na entrada do cinema, vago, meus óculos, vagos, pedaço de chão quadriculado do boteco da 209, lindamente vago. Eu olhava para o lado e via o Latour, agora calado, ruminando qualquer coisa, não pude ouvir, enquanto o Vilar continuava a todo fôlego,

— é uma outra forma de comunicação essa, isso de usar palavras, esse totalitarismo das palavras, é uma celebração bisonha do racional. Não se pode verbalizar tudo, não se pode verbalizar

Passava alguém, de longe era Tyu, os cabelos encaracolados presos, a expressão ainda a se definir, o vestido, amarelo, agora mais perto, o vestido se alaranjava e o cabelo se desprendia e se encurtava, ainda podia ser Tyu, já se passavam tantos meses, porque não, mas Tyu se aproximava e se desfazia, se desmanchava como meteoro invadindo a atmosfera terrestre, se queimava com o atrito do ar, e chegava ao solo, se chegava, só como rastro, poeira cósmica, cinco bilhões de anos sopráveis. A moça de vestido avermelhado e boina na cabeça se aproximava, agora era parte do cubo gigante, se integrava à megalomania arquitetônica do projeto, preenchia e esvaziava o espaço simultaneamente, aquele vazio inelutável cujos esforços de invasão serviam-lhe somente de marca-texto. O encher, o preencher sendo marca-texto do vazio, um vazio manchado de amarelo-fosforecente, eu, Vilar, Latour e a moça agora de costas, mini-saia jeans, pedaços de vazio.

Latour e Vilar, vistos de perto, e de cima. Eram como restos de meteoro.

— São seis e quarenta e cinco. Aliás, quarenta e seis.

Latour agora se inquietava com as argumentações de Vilar, com o mundo não-verbalizável de Vilar, e que era também o mundo não-verbalizável de Tyu, esse não-mundo sobre o qual não se pode falar,

 — sobre o que não se pode falar, deve-se calar.

mas como não falar, o pôr-do-sol que avermelhava a grama do cerrado e a aspereza da parede do Instituto de Ciências Humanas resvalando contra as costas das mãos o atentavam, a árvore retorcida do jardim da Faculdade de Direito em busca do sol, o atentava, não podia, não queria, não resistia a tradução, a tentação de carregar as coisas do mundo na bagagem compacta que é a palavra, não aceitava, non, ça ne marche pas,

— sobre o que não se pode calar, deve-se falar.

A moça ou o vazio da moça observava os pôsteres que adornavam as vastas paredes de concreto do grande cubo retangular, do grande retângulo da entrada do cinema, da grande entrada do cinema cúbico. Aqui se via Grande Otelo, ali Hugo Carvana, mais para a esquerda, Dina Sfat, ao lado de Jece Valadão, e ali mais para cima acho que era Oscarito, ela agora está no Jece, anda um pouco mais, agora sim Oscarito, que olha para a nossa direção, olhos arregalados, e agora noto, todos eles, olham para a nossa direção, uns com o canto, outros de olho quase inteiro, nunca um olho completo, que olhar nos nossos olhos seria olhar nos olhos da câmera que representaram nossos olhos décadas atrás – pela imagem, preto e branco, a do Jece deve ser de setenta e pouco – e nos olhos da câmera não se olha.

— São seis e quarenta e cinco. Aliás, quarenta e oito.

Nos olhos da câmera não se olha, pensava também o Latour, agora mais calmo, agora o pequeno buraco no chão se associando com o relevo irregular do grande chão cinza, grande cinza do chão, para formar uma boca, fazer parte de algo maior enquanto Vilar ainda era o mesmo pequeno buraco. Pensava em uma imagem, grande tela de cinema, cinema grande de tela, uma senhora nordestina olhando para os olhos da câmera, encarando o Latour, no dia em que o Getúlio morreu lá na Bahia, eu fiquei cega aqui também, escancarando o Latour, ele às oito horas do dia, eu às oito horas da noite, carrega o mundo com os olhos, somente os olhos, não importam as palavras, Latour acuado na cadeira, olha para fora da câmera, desconcertado, qualquer fora, os olhos gigantes o esmagavam em toda a sua megalomania ótica que abarcava a tudo no mundo, olhos como bagagem compacta para as coisas do mundo, e era como se tudo estivesse lá para aqueles olhos, um plano, um grande plano, até mesmo ele, Latour, e eu, e o Vilar, e a moça do jeans, todos inseridos dentro daquele grande plano, talvez por ordem do diretor, como figurantes, ou para compor o cenário, que seja, o fato é que saíam da tela, os olhos deixavam a tela no momento em que olhavam para os olhos do Latour, que eram os olhos da câmera,

— se ela não tivesse cegado, ele às oito horas do dia, ela às oito horas da noite, e por isso, não estivesse olhando para a câmera, olhava para baixo, na diagonal, para a direita, e de qualquer forma, não olhava,

e Latour se sentava confortavelmente, mais uma vez, em sua poltrona imaginária.

— São seis e quarenta e cinco. Aliás, quarenta e nove.

            ***

            A moça da mini-saia jeans e do vestido, agora roxeado, seguia caminho, agora circular, através das várias quinas do grande cubo. Talvez por circular, e por ser um cubo, toda essa subversividade geométrica da moça, e ela parecia mais ser rebatida pelas quinas, mais do que andar de fato, por vontade própria. Mais inércia do que vontade, mais vício do que inércia, mais cubo do que círculo, e pensei então em olhá-la. Mas olhá-la mesmo, diretamente na câmera, o estonteante olhar nos olhos, o esmagador olhar nos olhos, queria cegá-la, ousar cegá-la, ou a ela ou a mim, ela às oito horas do dia,

— sobre o que não se pode cegar, deve-se olhar.

eu às oito horas da noite, era quase mesmo como um desafio, retirá-la do transe, roubá-la dos olhos do Grande Otelo, agora o Oscarito, Sfat, Otelo de novo, como dar fim ao vício, dar fim ao círculo, quase uma ode ao cubo, grande, cinzento. Latour e Vilar estavam agora calados, talvez um pouco em agonia, ou por cansaço, ou por tédio mesmo.

Aliás, Latour e Vilar, vistos de perto, e de cima. Eram dois pequenos olhos.

Iria esperar para quando passasse por perto de mim novamente, teria de passar por mim, sempre passara, eu era parte do vício, do cubo, do círculo, iria passar, com o olhar perdido como sempre, ou não, talvez atento demais, procurando por algo novo, um pequeno detalhe na parede que tivesse passado despercebido nas dezessete voltas anteriores, um novo ângulo possível de quina para voltar a ser rebatida e aí sob nova forma já mais trapezoidal, ou uma falha de continuidade, um anacronismo na cena do Jece Valadão com o Carvana jamais percebido, seu olho era livre, Valadão não lhe olharia de volta, nem o Carvana, e se libertava cada vez mais, e cada detalhe era cada vez mais seu, pequenos rabiscos na parede, juras de amor escritas na década de setenta, bituca de cigarro no chão, outra, o Latour, o Vilar, e de repente eu, visto de perto, dois pequenos olhos, esbugalhados. Virei-me. Ele às oito horas do dia, eu...

 — São seis e quarenta e cinco. Aliás, são oito horas da noite.

Virei-me. Não agüentei e virei-me. Disfarcei o atentado ótico com as vestes de uma passagem de olhos, panorâmica, uma vontade súbita de absorver o todo com um rápido movimento de pescoço, 180º, ela estava no caminho, fazer o quê, naquele momento ela era tão paisagem, tão parte do todo, quanto o grande chão cinzento, o grande cubo de entrada, o Grande Otelo. Talvez ela tenha acreditado, pouco importa. Vilar estava inconformado, me berrava ao ouvido, acabava comigo. Vilar não teria se virado, 180º. Vilar não é dos que se cegam. O Vilar abre os olhos,

— sobre o que não se pode olhar, deve-se cegar.

já eu não.

            Ia tentar de novo. Décima nona volta, ela vinha, mais uma vez, círculo do cubo, passava por Oscarito, Sfat, deixava para trás o carro de pipocas – abandonado, desde o início, esteve sempre ali, só agora o notei –, outra quina, agora parecia mudar seu trajeto ligeiramente, passava mais distante e já quase não valia mais a pena, mas não interessava, olharia ainda assim, em seus olhos, câmera, e seguia caminho, a bituca, a outra, o Latour, o Vilar, e de repente eu, visto de longe, dois pequenos pontos, talvez outras duas bitucas, esbugalhadas. Não me virei. Nem precisei. Acho que não me viu. Ou me viu, como via tantas coisas, inseriu meu olhar em seu caderno de notas totalitárias do grande cubo cinzento, e tinha lá todo um inventário, bituca de cigarro, Oscarito, eu, dois olhos, às vezes grandes, às vezes pequenos, às vezes abertos, às vezes não.

            Tyu também não teria se virado. Tyu nesse sentido era o oposto de mim. Aliás, era o oposto de mim em muitos sentidos. Tyu não inventaria Latour e Vilar, nem sequer os teria notado (aliás, é interessante como não se virar não significa necessariamente notar). Teria notado o carro de pipocas muito mais cedo do que eu, isso certamente. Mas também não conversaria com o carro de pipocas, ou com o pipoqueiro, que de qualquer forma, não estava lá. De novo, e eu já disse, não palavras, imagens. O carro de pipocas de Tyu não seria dizível, verbalizável, não sairia pela boca como o meu. Seu carro seria uma cena, complexo de imagens em seqüência mais ou menos linear, antes com o pipoqueiro, depois sem, e ficaria somente ele, ali, parado, outro vazio, ilha cercada de mim, Latour, Vilar, Tyu, e a moça do vestido avermelhado, por todos os lados. E de repente se notariam sobre a prateleira do carro três pequenos sacos de pipoca, já cheios, como que prontos para serem vendidos, três sacos, e nada mais, nem dentro, nem fora dos sacos, como se fosse essa sua expectativa para a noite, público contado, éramos eu, Vilar, Latour, Tyu, a moça do vestido alaranjado, cinco no total, um ou dois sem fome, outro sem dinheiro, éramos três sacos de pipoca. E para Tyu, seria poético, não sei se um poético melancólico, ou um poético kitsch, o pobre pipoqueiro, pipoqueiro pobre e cinzento, que nem estava lá, ou um poético colorido (só agora noto que é vermelho o carro, a Tyu adora o vermelho, vermelho não é palavra, nem é dizível como palavra, gostava do vermelho como olho, vermelho como cor que olha para a câmera), mas de qualquer forma, enfim, um poético que não está nestas poucas linhas, e nem estaria em muitas, mesmo em um longo e absurdo soneto, não, o pipoqueiro não se renderia, jamais, a essa minha obsessão, esse autoritarismo da palavra que a tudo quer render, materializar, guardar em bolsos, meus ou alheios. Para Tyu, o pipoqueiro ou o carro de pipocas jamais seriam meus. A moça do vestido amarelo agora também olhava para o carrinho. Agora, de costas, parecia-se muito com Tyu. Também, já se passavam tantos meses, Tyu para mim se desmanchava, como meteoro invadindo a atmosfera terrestre. Arrisquei-me.

— Moça, por favor, você tem as horas?

— São seis e quarenta e cinco. Aliás, são oito horas da noite.

Latour e Vilar, aliás, vistos de perto, e de cima, eram crateras.

11.11.08

Informações pessoais


"Tiende a vestir de negro, de gris, de pardo. Nunca se lo ha visto con un traje completo. Hay quienes afirman que tiene tres pero que combina invariablemente el saco de uno con el pantalón de otro. No sería difícil verificar esto".

Sou do Rio de Janeiro, filho de mãe cearense com pai gaúcho, que trabalhava com análise de sistemas até ser chamado para a guerra do Golfo, de onde nunca mais voltou. Minha mãe era solteira e me criou sozinho em um casebre em Ipatinga no interior de Minas Gerais, onde em geral vivíamos de uma pequena porção de dois pães de queijo diários que recebíamos em troca de mão-de-obra em uma plantação de cana-de-açúcar, de onde fugi aos doze anos para virar trapezista infantil em um circo finlandês que fazia um tour pela região rumo a Jacarepaguá. Lá encontrei meu pai que era contador e que foi quem me ensinou várias formas de burlar a receita federal que utilizei incessantemente até os trinta e dois anos, quando fui delatado por uma garota moçambicana que conheci em um vôo para o Marrocos e com quem me casei dois dias depois, após cinco anos de noivado em que adiamos nosso casamento inúmeras vezes devido a guerra dos Bálcãs ou por causa da chuva. Fui caminhoneiro na península ibérica durante a adolescência levando carregamentos de munição bélica para uma empresa ucraniana clandestina de produção de confetes coloridos da qual minha mãe foi CEO por cinco anos e meio. Passei minha infância no norte de um país da ex-união soviética do qual agora não me lembro o nome e vim para o Brasil somente a três meses atrás, e desde então venho tendo aulas de português intensivo com enorme sucesso, praticando diariamente através de cartas poéticas que troco com uma paixão minha de Goiânia que jamais vi, e que conheci no meio de uma multidão em um concerto de Philip Glass no sul da Austrália dois meses antes de nosso primeiro beijo em um bar na beira de uma rodoviária federal ao sul do Amapá onde ela ganhava alguns trocados como vidente e previu que eu morreria de morte violenta no dia 2 de agosto de 2089 logo após terminar meu bacharel em Antropologia pela Universidade de Brasília e provavelmente por efeito de drogas alucinógenas que havia tomado na noite anterior para escrever um grande livro de 734 páginas que dedicava inteiramente a uma garota que havia conhecido em um grande jardim de pés de figo na França e que vivia de esmolas que recebia de descendentes diretos da aristocracia do Faubourg Saint-Germain e que servia para sustentar seus sete filhos e mais uma mansão ao sul do país. Passei onze anos e sete meses da minha vida alimentando-me somente de chá preto e biscoitos até que resolvi comer cinco pizzas de calabresa com anchovas sem razão nenhuma. Sou vegetariano desde que me formei em agronomia em Bratislava e desde então tenho mantido no quintal de casa uma plantação de praticamente tudo o que se pode comer e que vai até mais ou menos o horizonte ou aquela região onde a vista alcança. Uma vez fiquei sem palavras por não saber como utilizá-las se não fosse em forma de soneto. Sou exatamente quem você pensa que eu sou. Semana passada, passei cinco dias e meia hora escrevendo longamente sobre um muro de uma mansão no sul do Mato Grosso do Sul até que todas as frases estivessem sobrepostas de tal forma que formassem um imenso muro negro ônix. Um dia, já fui ninguém, por quatro ou cinco horas, até que isso passou e agora só volta esporadicamente, quando esqueço de me medicar. Passei vinte e poucos anos, ou foram trinta, isolado no topo de uma montanha muito muito alta em um cume nevado ao leste de um desses países de forma trapezoidal para filmar um documentário sobre o restante do planeta e a vida de todos os seres humanos, a exceção de uma pessoa no centro-oeste brasileiro sobre a qual nada sei. Desde que voltei, tenho trabalhado em uma fábrica de barbantes coloridos no noroeste do Chile a cinco pesos e meio por mês onde passo o tempo conversando com uma operária equatoriana sobre os últimos desdobramentos do movimento de translação de Óreon em relação a via láctea e desde então tenho tentado com pouco sucesso saber mais detalhes de sua vida pessoal fazendo uso somente de vocabulário astronômico, dado meu conhecimento parco de língua quéchua. Fui feliz em nove de dezembro de 1952, mas desde então isso tem sido raro. Trabalhei como secretário de Lech Walesa na Polônia e escrevia todos os seus discursos e falas desde os seus sete anos de idade até ser demitido por deixar mensagens subliminares sobre mim mesmo em meus próprios discursos e que levariam a um golpe estatal meu sobre a minha pessoa. Recebi ontem a penúltima edição do Correio Braziliense antes do fim da série, mas já imagino que o mocinho morra no final. Passei a infância assistindo televisão no canal de teste de cores todas as manhãs antes de ir para a escola e desde então tenho dificuldades para respirar quando não estou diante de um arco-íris. Um médico neozelandês detectou em mim uma doença congênita que me levará a morte em cinquenta e oito anos pelo excesso do uso de vírgulas no meio das frases. Trombei contigo hoje no café da manhã, por isso a mancha na sua blusa. Cursei artes cênicas na Bélgica por sete anos e cheguei ao auge da minha carreira participando dos três filmes da trilogia das cores do Kieslowski fazendo o papel da idosa que era incapaz de jogar o lixo no lixo durante o curto período de cinco segundos em que aparecia, sendo que cerca de 203 pessoas no planeta tomaram conhecimento de que a cena se repetia nos três filmes, isso ao menos de acordo com os dados atualizados até ontem. Faço bolinhas de papel e jogo para o alto para saber aonde vão cair, às vezes provocando acidentes aéreos como os da semana passada, que deixaram três milhões e meio de mortos e uma pessoa se molhando apesar do guarda-chuva, mas parece que ela não se importa. Minhas canetas costumam secar antes que a tinta acabe. Neste instante há uma parede branca em minha frente. Não sei o que há atrás de mim, mas vou olhar.